PRINCIPIO FUNDAMENTAL – O AMOR
Ademais,
existia um terceiro princípio, fundamento do universo espiritual - o do Amor -
mercê do qual Deus não é egocêntrico senão para irradiar em Amor. Assim sendo,
o Sistema de Deus não pode basear-se na coação, assim como, em virtude do
princípio de liberdade, não pode basear-se no determinismo, mas apenas na
adesão espontânea. Deus, por ser Amor, não pode querer a criatura forçadamente
prisioneira do Seu Amor. Ele limita-se a atrai-la. Eis uma nova característica
do Sistema, que não pode admitir da parte da criatura, senão uma
correspondência de caráter espontâneo, sem a qual não há amor. Não é possível,
forçadamente gravitar-se em direção a Deus, por amor. Assim, pois todo o
Sistema, ainda por esse principio, impunha a livre escolha, qual passagem
obrigatória para valorização do ser, que devia, antes de aceito, conquistar
plenamente esse direito, demonstrando livremente haver compreendido, aceito e
querido corresponder ao Amor de Deus. ....Foi por amor que Deus quis a criatura
egocêntrica, feita à Sua imagem e semelhança, participe das Suas próprias qualidades.
Foi por amor que Deus quis a criatura livre, a fim de que ela livremente
compreendesse e retribuísse esse amor.
c)
O “DIALOGO” - A DECISAO - SUAS REPERCUSSOES – AS CONSEQUENCIAS
Entendidas
a necessidade, a lógica e a utilidade da prova, observemos como se comporta o
ser neste momento supremo.
Eis
a criatura, substancialmente espírito, centelha de Deus, apenas destacada do
seio do Pai que a gerou. Ela fita o Centro, do qual derivou por ato de Amor, a
que deve a sua existência. A estrutura do sistema impõe uma resposta sua a esse
ato, a correspondência de um recíproco ato com que essa criatura, por sua
livre aceitação, confirme ou renegue, como queira, permaneça no Sistema ou dele
se desligue, ponha-se dentro ou fora dele, agindo livremente e definindo,
assim, a sua posição. O Criador respeita tanto a liberdade que Ele deu à
criatura, fazendo-a à Sua imagem e semelhança, que submete a Sua obra de
Criador a essa criatura, como ocorre no consentimento necessário de duas partes
num contrato bilateral. Somente quando a livre criatura tiver dito:
"Sim", a criação estará completa, aperfeiçoada até a esse momento,
em que a criatura é quase chamada, com seu consentimento, a colaborar. Parece
enorme, absurda, tanta bondade. Mas essa é a estrutura do Sistema, assim quer o
Amor de Deus.
Eis
o ser diante de Deus. Apenas criado, ele ainda não falou. Deve dizer agora a
sua primeira palavra, que Deus lhe pede em resposta ao Seu ato criador: a
palavra decisiva. Deus lhe fala primeiramente:
"Olha, ó criatura, o que há
diante de ti. Eu sou o Pai que te criou. Quis fazer-te da Minha própria
substância, um “eu sou”, centro, livre como "Eu Sou". Fiz-te grande
com a minha grandeza, poderoso com o meu poder, sábio com a minha sabedoria.
Fiz assim espontaneamente, por um ato de Amor para contigo, minha criatura. A
este Meu ato falta somente um último retoque para ser perfeito e ele deve
partir de ti. Espero-o de ti, que o farás com plena liberdade. Ofereço-te a
existência como um grande pacto de amizade. Ele é baseado no Amor com que te
criei e a que deves o teu ser. Podes aceitar ou não este Meu Amor. Todo pacto é
bilateral, toda aceitação de amor deve ser espontânea. E absurda uma imposta
correspondência de amor. Escolhe Vê o
que Eu já fiz por ti. Eu ti precedi com o exemplo. Tu me vês. Olha e decide.
Qualquer pressão Minha fará de ti uma criatura escrava e Eu te quis livre,
porque deves assemelhar-te a Mim. Para que Eu pudesse amar-te como quero,
devias ser semelhante a Mim. Não se pode pedir Amor a um escravo, mas somente
obediência imposta, o que está fora do Meu sistema e seria a sua inversão. Vem
pois, a Mim, corresponde ao Meu Amor que te chama e te atrai Confirma a Minha
obra com a tua aceitação. Por tua livre escolha. consente, entra e coordena-te
no Meu Sistema, do qual Eu sou centro. Subordina o teu "eu sou"
menor ao "Eu Sou", o Uno-Deus, supremo vértice que rege o Todo.
Reconhece a ordem da qual Eu sou o chefe. Promete obediência à Lei que exprime
o Meu pensamento e vontade. Por Amor te peço, pois que és meu filho, que me
retribuas o Amor com que te gerei".
Após
essas palavras, por um instante ficou suspensa a respiração do universo,
enquanto as falanges dos espíritos criados oscilavam em cósmicas ondulações. O
ser olha e pensa. Ele sente o poder que lhe vem do Pai, uma imensidade que o
torna semelhante a Deus. É livre, como um “eu sou” autônomo, senhor do seu sistema, das suas
forças e equilíbrios interiores. A sua própria estrutura, permeada de divina
grandeza, impele-o a repetir em sentido autônomo, separatista, o egocentrismo
que ele continha do "Eu Sou" máximo: Deus.
Mas,
do outro lado há uma força oposta, anti-egocêntrica, tendente a neutralizar a
primeira: o Amor. Ele se manifesta como silenciosa atração, que se impõe por
bondade. Quem compreendeu esse apelo, verdadeiramente compreendeu Deus.
As
duas forças, assim diversas, movem as falanges dos espíritos, que as examinam e
pesam. Belo é o Amor, mas acarreta uma renúncia cheia de deveres, uma renúncia
à plenitude total do "eu sou", implica obediência, o reconhecimento
de uma posição subordinada. Eis o perigo tentador: exagerar, em seu juízo, a
própria semelhança com Deus e admitir uma pretensão de identidade. Ao invés de
seguir o caminho do Amor, coordenando-se com obediência na ordem, tomar a via
oposta. Devendo coordenar o próprio "eu sou", reforçar sua
autonomia, fazendo-se isoladamente centro do sistema com sua própria lei.
Imitar Deus somente para superá-Lo. Responder ao doce apelo de Amor com um desafio: "Não! Deus, eu, criatura, sou
maior do que Tu. Eu sou Deus, não
Tu"!
Então,
muitos "Deuses" menores, feitos de substância divina, livremente
decidiram tornar-se "Deuses" maiores, iguais a Deus. A escolha foi
por eles feita ... Mas não foi assim para todos os seres. A balança em que
foram colocados os dois impulsos, para uma outra multidão de espíritos se
inclinou, ao invés, para o lado Amor, oposto ao da rebelião por orgulho. (DEUS
E UNIVERSO – Pietro Ubaldi – Cap. III – A QUEDA DOS ANJOS – 2 Ed.)
Pergunta
76 - Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode
dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o
Universo, fora do mundo material” (LIVRO DOS ESPÍRITOS - Allan Kardec - questão 76)
A
quem objetar que um sistema perfeito não deve conter a possibilidade de erro,
deve-se contestar que essa possibilidade. ... De outra forma não nos
encontraríamos em um sistema de liberdade, mas de determinismo, no qual as
criaturas não passariam de autômatos. Ora, Deus não criou seres dessa espécie,
mas sim criaturas participes das suas próprias qualidades. Dada a estrutura do
Sistema, gera-se uma cadeia de férrea lógica, que conduz dos princípios a essas
conseqüências. A criatura deveria, pois, necessariamente encontrar-se ante a
encruzilhada da escolha.
....O
Sistema estava acima do erro nele possível, e fora constituído para permanecer
íntegro, inabalável, para qualquer acontecimento. Por isso podia permitir em
seu seio uma possível violação e desordem, tanto mais quanto essa possibilidade
tinha uma função, a de aprovar o ser dando-lhe, segundo o princípio de justiça,
se superasse a prova, o pleno direito de aquisição da sua posição de filho de
Deus, somente depois de havê-lo merecido. O Criador exigia da criatura uma
livre aceitação do Sistema, um espontâneo reconhecimento das recíprocas posições
nele, para então poder conceder ao ser uma livre co-participação em Sua obra,
como o Sistema requer, o que seria impossível com uma criatura escrava ou um
autômato. (DEUS E UNIVERSO – Pietro Ubaldi – Cap. III – A QUEDA DOS ANJOS – 2
Ed.)
Eles
reconheceram a superioridade de Deus e se fundiram na Sua Ordem,
tornando-se-Lhe colaboradores, livremente aceitando-a e compreendendo.
Tiveram,
então, início no ser decaído, duas vias opostas, que o distinguem. De um lado,
o orgulho, o mal, a dor, as trevas, o caos e, consequentemente a criação e vida
na matéria. Do outro a obediência, o bem, a luz, a ordem e a vida perfeita do
puro espírito. A queda é a involução, da qual se sobe redimido pelo esforço da evolução, absorvendo o mal em dor,
edificando-se pelo sofrimento com a experiência da vida, assim se
desmaterializando e espiritualizando na ascensão ao encontro de Deus, que não
abandonou o ser que caiu, mas apenas lhe disse: "Destruíste o esplêndido
edifício. Contudo, continuas a ser meu filho. Reconstruirás, porém, tudo com o
teu esforço".(DEUS E UNIVERSO – Pietro Ubaldi – Cap. III – A QUEDA DOS
ANJOS – 2 Ed.)
Usamos
neste capítulo a expressão "queda dos anjos", porque tradicional e de
mais fácil compreensão. Todavia, é bom esclarecer ser ele uma expressão
antropomórfica, que reduz o fenômeno às dimensões inferiores da matéria. Ainda
que acanhado, o antropomorfismo constitui uma necessidade, porque, embora contenha
o defeito de desfigurar o real aspecto do fenômeno, tem o valor de aproximá-lo
de nosso mundo tão diferente.
Cumpre-nos, pois, aqui realçar que a expressão "queda dos
anjos" representa uma redução da realidade, na medida limitada da
psicologia humana. De fato, o fenômeno ocorreu em planos de existência tão
elevados, que para nós se situam no superconcebível; ocorreu em dimensões em
que as nossas representações de espaço e de tempo não têm mais sentido. A
imagem, pois, que tivemos de escolher representa u'a mutilação e não uma expressão da realidade.
(DEUS E UNIVERSO – Pietro Ubaldi – Cap. III – A QUEDA DOS ANJOS – 2 Ed.)
Mas observemos ainda
mais pormenorizadamente a visão do fenômeno. ....Começou um processo de
desfazimento e de descida, de inversão de todas as qualidades do Sistema nas
qualidades opostas. Este processo chama-se involução,
explicando-se assim como nasceu à matéria e porque o nosso universo assumiu uma
forma material. Explica-se também como, chegados ao fundo do caminho da descida
involutiva, tenha podido nascer e desenvolver-se o processo inverso, em que
estamos situados e se chama evolução.
Só dessa forma são coordenados todos os fenômenos do universo num único
telefinalismo; compreende-se porque nascem os planetas e a vida sobre eles,
descobrindo-se o fio espiritual que liga todas as formas de vida num único
caminho ascensional dirigido para Deus.
Há o fato positivo
de não se poder dar a Deus, de maneira nenhuma a paternidade de um universo,
que demonstra ser o contrário da perfeição. ... O nosso Universo, dividido no
dualismo, em que cada ponto se fracionou em dois termos contrários que lutam
para sobrepor-se, é um trabalho tão sobrecarregado de males, dores e
imperfeições, tal como existe hoje, que só pode ser considerado como um estado
patológico de decadência. A quem o atribuiremos pois? Não há dúvida de que a
esses efeitos, temos de atribuir uma causa. Como no todo não há outros termos e
não podemos atribuir ao Criador a derrocada, só nos resta atribuí-la à
criatura. ....em vista de no todo só existir Deus e a Sua criatura, só nos
resta atribuir essa obra à Sua criatura. (O SISTEMA – Pietro Ubaldi – Cap. III
– QUEDA E RECONSTRUCAO DO SISTEMA – Pag. 39 – 2 Ed.)
“Quem é, com efeito,
o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, se
afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do
bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus - Cristo”.
“Que é o castigo? A
conseqüência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores
necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento.
O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si
mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação,
a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão
de ser”.
“Oh! Em verdade vos
digo, cessai, cessai de pôr em paralelo, na sua eternidade, o Bem, essência do
Criador, com o Mal, essência da criatura. Fora criar uma penalidade
injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos e
das penas pelas transgressões e consagrareis a unidade divina, tendo unidos o
sentimento e a razão.” (LE – ALLAN KARDEC - PAULO, apóstolo - Cap. II – Parte 4
– Das Penas e Gozos futuros – Pag. 468 – FEB)
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